No post anterior, abordamos o
fator populacional associado à carga tributária. E o fizemos na perspectiva da
população beneficiária de serviços públicos. Vimos que os brasileiros, a
despeito de contribuírem com uma proporção de suas rendas idêntica ao que fazem
os neozelandezes (34,5% do PIB), têm à disposição um valor 3,5 vezes inferior
(US$3,9 mil, ante 13,4 mil) ao que eles têm à sua. Também fizemos a comparação
com os cidadãos norte-americanos e os alemães, o que tão somente realçou os
contrastes.
Agora, convido o leitor a
considerar a relação entre disponibilidades e necessidades dessas sociedades
comparadas. Vamos adicionar outro ingrediente no debate sobre onde
deve se situar a carga tributária de um país. Peço que considere,
primeiramente de modo intuitivo, a seguinte tarefa: descrever essas quatro
sociedades do ponto de vista de seus respectivos padrões de desenvolvimento.
Estariam os brasileiros num mesmo padrão de desenvolvimento dos neozelandeses,
ou dos norte -americanos, ou, ainda, dos alemães?
Já intuitivamente é possível
afirmar, com alguma segurança, que a sociedade brasileira possui um padrão de
desenvolvimento sensivelmente menor do que as três outras sociedades
comparadas.
Se usarmos um indicador de renda
per capita (calculado, com base no PIB, o que representa uma aproximação),
combinada com os coeficientes de Gini, podemos embasar formalmente essa
conclusão inicialmente intuitiva. Enquanto o PIB per capita (calculado)
brasileiro soma US$11,3 mil, o dos neozelandes, norte-americanos e alemães
alcança, respectivamente, US$38,9 mil, US$51,5 mil e US$43,9 mil. Enquanto os neozelandeses ganham (na média) quase quatro vezes mais do que os brasileiros,
os norte-americanos ganham quase 5 vezes mais. A consideração do coeficiente de
Gini (0-100, sendo que 100 representa a desigualdade absoluta e 0, o contrário)
ainda reforça a ideia de que os padrão de desenvolvimento social nesses países
são substancialmente maiores do que no Brasil. Enquanto nós possuímos um
índice de Gini de 51,7, Estados Unidos e Alemanha têm 41,1 e 30,6. Logo, são
sociedades em que não apenas a renda média é significativamente mais elevada,
mas, também, possuem uma distribuição mais equitativa dessa renda,
comparativamente ao Brasil.
(fazer um gráfico aqui, revelendo a necessidade de serviço público)
Vou me abster de apresentar
indicadores de saúde, de educação e de segurança, que bem podem reforçar a
ideia sobre os diferenciais de padrão de desenvolvimento socioeconômico entre
esses países comparados. O objetivo aqui é instar o leitor a considerar, em
face dos padrões de desenvolvimento socioeconômico desses países selecionados, a seguinte questão: quais devem apresentar populações mais carentes de serviços públicos e quais
devem apresentar populações menos dependentes de serviços públicos?
Com uma renda elevada e
relativamente bem distribuída, podemos considerar que deve existir menos norte-americanos
e alemães dependentes de serviços públicos. Supostamente, pessoas dessas
nacionalidades possuem renda suficiente para assegurar o acesso a escolas e planos
de saúde. Se não em termos absolutos, ao menos na comparação com os
brasileiros. Nós, por nossa vez, com uma renda menor e ainda pior distribuída, teremos
um contingente maior de pessoas que dependem das escolas públicas e do sistema
público de saúde para verem suas necessidades garantidas.
Isso nos remete ao cerne do
debate: que tamanho de Estado é necessário para que uma sociedade assegure suas
necessidades? Nosso objetivo aqui não é afirmar que o estado deve ter um tal ou
um qual tamanho. Mas cotejar com o leitor a ideia de que: quanto mais pobres
somos (em média), maior nossa necessidade de recorrer ao Estado para o
suprimento de nossas necessidades; e quanto mais rico somos (e quanto melhor
nossa distribuição de renda), melhores nossas condições para contribuir com
tributos ao Estado.
Assim, temos um paradoxo: a
carência impõe menores condições contributivas e maiores necessidades
associadas ao Estado. A abastança, por sua vez, reflete maiores condições
contributivas e menores necessidades associadas ao Estado. Se consideramos
razoável esse raciocínio, então, uma conclusão preliminar que se impõe é que:
Sociedades pobres requerem cargas
tributárias maiores do que as ricas.
E, observe o leitor dessa
sequência de posts: não apenas porque é preciso um percentual maior, já que
incide sobre uma base baixa (de riqueza), mas porque é preciso mobilizar uma
riqueza proporcionalmente maior, a fim de atender uma população com
necessidades maiores.
Ainda que, ao final desses posts,
o leitor possa ainda não estar seguro dos elementos que devem orientar o debate
sobre a carga tributária, importa considerar que o seu debate envolve uma
reflexão sobre o Estado e seu papel no desenvolvimento econômico e social. Sem
o que, esse debate se restringe ao modo desonesto e simplório com que o trata a
mídia em geral.
(Este último parágrafo está ruim. Precisa de outro fecho, melhor, para uma sequencia que é sensacional, apenas. Vou pensar em algo.)